“O ato representa uma resposta nas ruas. Não existe estupro culposo. Não existe estupro sem dolo. É triste imaginarmos que o estupro se tornou algo natural na sociedade. A palavra da vítima e sua lucidez é questionada o tempo todo. Não podemos nos silenciar. Precisamos dar uma resposta nas ruas. A sentença judicial do caso da Mariana fere todas nós mulheres! Queremos justiça por Mariana e todas as mulheres! O feminismo nunca matou ninguém, mas o machismo mata e viola nossos direitos todos os dias”, disse Renata Redoglia, de 23 anos, vice-presidente da UJS Maricá.
“Fazemos parte de uma luta histórica. Se tem algo do qual as mulheres, em especial, as negras, sofreram ao longo de sua existência, foi com o estupro. Sou membro do Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres do Estado do Rio de Janeiro. Não iremos comungar com as mentes insanas que fazem defesa para a cultura do estupro num país com uma conjuntura na qual uma mulher é vítima de feminicídio a cada nove horas durante a pandemia, onde crianças são vitimas de estupro. Já passou do tempo de pautarmos essa temática”, reforçou Mônica Gurjão, de 50 anos, da Unegro.
Para Mãe Simone, 46, a legitimação da cultura do estrupo vem de cima. A presidenta da UBM Maricá lamenta ouvir discursos negacionistas proferidos por governantes do alto escalão.
“A sociedade está doente. O machismo é legitimado pelo governo que temos. O presidente legitima esse tipo de atitude e pensamento de que a vítima é culpada de ser estuprada. Antes, o machismo ainda era um pouco velado, agora é escancarado. O peso desse ato de hoje é fazer a sociedade e os poderosos entenderem que essa sentença tem que ser anulada, porque não existe estupro sem a intenção de estuprar. É lamentável vivermos num país em que a cultura do estrupo é forte, firme e legitimada pelos seguidores de Bolsonaro”, argumenta.
Estudante de ciência política, Rafaela Lima, 40, afirma que o julgamento de Mari foi, na prática, um segundo ato de violência contra a jovem e alerta: “Isso abre precedente para que outras pessoas usem essa desculpa de que fizeram sem querer fazer, sem intenção. Para que isso seja mudado, falta a desconstrução da cultura do estupro, que é alimentado há anos por uma sociedade que tolera esse tipo de fato. A Mariana estava pedindo socorro pela segunda vez e, pela segunda vez, ela não foi ouvida. Realmente, estou muito preocupada com o caminho que estamos tomando. Precisamos ter um choque de mudança em toda a sociedade”, acrescenta.
Representante do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher (Cedim), Taisse Costa também aponta que “Mariana foi vítima duas vezes”. Ela destaca que “o agressor foi inocentado sob o argumento de que ele não tinha certeza de que Mariana estava completamente fora de si”.
“Isso abriu um precedente judicial. Não podemos admitir que o sistema judiciário seja conivente com esse tipo de prática”, enfatizou Taisse.
Neste domingo (8), Mariana Recalde completou 35 anos de vida. Na véspera de soprar as velinhas, a economista, integrante da UBM, prestigiou o evento e também cobrou justiça.
“O que aconteceu com Mari Ferrer representa a situação das mulheres estupradas em todo o Brasil. Fazer esse destaque por Mari Ferrer é também protestar pela mudança da situação da mulher. É muito importante a vinda delas aqui, mesmo no meio da pandemia, além da paralisação das agendas das candidatas para realizar essa atividade hoje”, comentou.
Caso Mariana Ferrer
Motivo de manifestações pelo Brasil, como o ato deste sábado em Maricá, o caso envolvendo a blogueira Mariana Ferrer, de 23 anos de idade, voltou repercutir com ênfase nesta semana.
O site The Intercept publicou um vídeo no qual o advogado de André de Camargo Aranha, o acusado, questiona a conduta da vítima. O empresário foi absolvido pelo juiz Rudson Marcos, da 3ª Vara Criminal de Florianópolis (SC), em setembro. A conclusão do promotor sobre o ocorrido foi considerada e chamada de “estupro culposo” pelos que não aceitaram o raciocínio que colaborou para a decisão do magistrado.
Famosos e até clubes de futebol e atletas repudiaram o desfecho do caso em que a jovem influencer acabou sendo humilhada e constrangida ao longo do julgamento. A acusação é referente a um ato cometido durante uma festa em 2018.