O prefeito de Maricá, Fabiano Horta, descartou ser candidato a governador do Estado em entrevista ao jornal Extra divulgada neste domingo (16/05). Ele assegura que vai contribuir na construção de um frente progressista para as eleições de 2022.
Horta também comentou sobre os programas sociais desenvolvidos na cidade que ajudaram na estabilidade da economia no município durante a pandemia do novo coronavírus.
Veja alguns trechos da entrevista concedida ao repórter Luã Marinatto.
Em 2020, nenhum outro candidato a prefeito no estado chegou perto dos mais de 88% dos votos dados a Fabiano Horta em Maricá. Apadrinhado por Washington Quaquá, ele tornou-se, ao ser reeleito, o único prefeito do PT nas 92 cidades fluminenses. Em meio a bons resultados no combate à Covid-19, e em um cenário ainda incerto no que diz respeito a eventuais alianças à esquerda, o nome de Horta vem sendo ventilado como possível candidato petista ao governo do estado no ano que vem. Entre elogios a Freixo (PSOL) e Benedita (PT), ele desconversa e garante: vai concluir o segundo mandato.
Como Maricá está enfrentando a Covid-19?
O desafio é coletivo. Desde o início, enfrentamos com a clareza de que saúde e economia devem caminhar juntas. Abrimos um hospital com 120 leitos. Construímos um laboratório, com a UFRJ, para termos diagnósticos com brevidade. E fizemos muita busca ativa na população, após os testes positivos. Isso tudo casado com as ações econômicas, para minimizar o impacto das restrições.
E quais foram essas ações?
Criamos o Programa de Amparo ao Trabalhador (PAT), que desde abril de 2020 paga um salário mínimo a 21 mil informais e autônomos. Já o Programa de Amparo ao Emprego (PAE) forneceu às empresas um salário mínimo por funcionário para manter as vagas. Isso fez com que a economia formal da cidade não se desarrumasse. Para se ter uma ideia, tivemos um crescimento, em um ano, de mais de 7% no número de empregos. Ou seja, criamos vagas em vez de perder. E o programa de renda básica também aumentou na pandemia, indo de R$ 130 para R$ 300, podendo acumular com o auxílio emergencial do governo federal e com os outros benefícios da cidade. Ao todo, investimos mais de R$ 500 milhões nessas ações.
Como está o ritmo de vacinação na cidade?
Ficamos limitados pela quantidade de vacinas que recebemos do estado, dentro dos repasses do Programa Nacional de Imunização (PNI). Estamos na média do estado, mas é um trâmite que tem atrapalhado muito a sistematização da vacinação nos municípios.
Maricá foi uma das primeiras cidades do Brasil a negociar a compra direta de vacinas, a russa Sputnik V. A Anvisa, porém, não aprovou o imunizante. E agora?
Ainda estamos trabalhando pela liberação. É um imunizante que se estabeleceu em outros países e está aí para a gente poder vacinar toda a população. A Argentina já fez uso e está tendo resultados.
Há um plano B?
Não, hoje não. Não há nenhuma negociação da prefeitura com outras farmacêuticas ou produtoras de vacina.
Nos últimos anos, sobretudo com o aumento da receita vinda dos royalties, Maricá vem adotando várias ações de cunho social. Como o senhor avalia esse cenário?
Maricá é um laboratório vivo na construção das políticas das ampliações de direitos. O ônibus gratuito, o “vermelhinho”, é um valor importante, pois garante o transporte como direito social conquistado e garantido pela Constituição. Já a moeda social, a Mumbuca, é fundamental para apoiar os mais vulneráveis. E o Passaporte Universitário já ajudou mais de 5 mil maricaenses da rede pública a cursarem qualquer curso com bolsas integrais. A escolha por vincular os recursos dos royalties de petróleo à garantia de direitos é uma política determinada pelo nosso governo.
Maricá é o município do Rio que mais recebe recursos dos royalties. Há receio de que essas iniciativas acabem muito atreladas a essa questão, sendo eventualmente prejudicadas por mudanças de cenário?
Em 2017, criamos um Fundo Soberano, que é mais ou menos como uma poupança dos royalties. Todo mês um percentual vinculado em lei vai para o fundo, para que a gente possa, em momentos anticíclicos, ter uma ação de garantia do estado. Hoje, está passando de R$ 500 milhões, o que dá a Maricá o maior Fundo Soberano vinculado a royalties do país. Em conjunto, temos construído uma política que ampliou a base de arrecadação da cidade como um todo. A receita primária local está em fase de expansão, o que permite retroalimentar esse ciclo de desenvolvimento. Não mexemos no Fundo Soberano mesmo na pandemia, por exemplo. Tudo o que temos feito vem do próprio orçamento do município.
Seu nome vem sendo muito ventilado como possível candidato do PT ao governo do estado em 2022…
Fui eleito com nove a cada dez votos dos maricaenses. É motivo de orgulho, porque é um projeto que começou lá atrás, com o Quaquá. O meu compromisso, com toda a franqueza, é concluir o ciclo local dos quatro anos. Mas é óbvio que a experiência de Maricá, como esse laboratório de políticas sociais, dialoga com a dinâmica do estado. E vamos contribuir para a construção das forças políticas. Temos os nomes do deputado Marcelo Freixo (PSOL), do André Ceciliano (presidente da Alerj, do PT), do Rodrigo Neves (ex-prefeito de Niterói, do PDT), do próprio Quaquá, da deputada Benedita da Silva, que teve ótimo desempenho nas últimas eleições… O nome vai surgir.
E não será o seu?
Eu sou militante do PT na construção de um projeto para o estado e vou ser prefeito de Maricá pelos próximos três anos e meio, mas vou ajudar muito a construir esse ciclo no campo progressista.
Já que citou Freixo, o senhor acha que ele troca o PSOL pelo PT, como especula-se?
Não posso responder por ele. O nome do deputado está posto em qualquer debate sobre o Rio. Ele tem uma trajetória clara de afirmação dos direitos humanos e de luta pela vida. Mas são movimentos que são dados com o tempo, ligados à trajetória do próprio Marcelo. Ele vai fazer o que julgar correto no devido tempo.
Como o senhor avalia as movimentações do governador Cláudio Castro? Ele chegou a mencionar o próprio Freixo ao comentar a operação no Jacarezinho…
Conosco, enquanto prefeitos, ele tem uma relação institucional. Mas há uma movimentação para formação de identidade, que está se moldando muito mais no campo da centro-direita. E a gente entende que o que precisamos hoje é construir uma outra política para o estado.
Em âmbito nacional, como o senhor vê a volta do Lula?
Ele está virando o centro de esperança da política nacional. É um processo de reconstrução histórico do PT, que tem muito a ver com esses tempos de exacerbação da fome e da miséria, com uma economia que não alavanca… Aí o Lula emerge como a grande força que dá aos brasileiros a esperança de reconstruir um caminho.
O senhor fala em reconstrução do PT. Como fazer isso descolando a imagem de corrupção que ficou associada ao partido?
O partido tem a essência de ter nascido de lutas populares. Temos de reconstruir isso, a força da luta da classe trabalhadora. O PT tem um legado e faz parte dos últimos 20 anos da história do Brasil.