Pesquisa da Universidade Federal Fluminense (UFF) aponta existência de superbactérias em praias de Niterói.
A pesquisa alerta para uma atenção ainda maior para a poluição dos mares, oceanos e praias. O projeto teve início em março de 2021, em parceria com a Prefeitura de Niterói e a Fundação Euclides da Cunha (FEC) através do Programa de Desenvolvimento de Projetos Aplicados (PDPA).
O objetivo é a avaliação da qualidade da areia das praias de Icaraí, Itaipu, Piratininga e São Francisco, investigando a relação entre a ocorrência do poluente microplástico e de superbactérias, aquelas com genes de resistência para diferentes antibióticos e que podem causar infecções difíceis de tratar. Agora, pouco mais de um ano depois, o estudo apresenta resultados que comprovam a existência desses microrganismos nas partículas plásticas encontradas na areia dos locais avaliados.
“É uma satisfação muito grande ver o avanço deste projeto e os primeiros resultados. Resultados que certamente contribuirão para saúde pública, para ciência e que com uma visão estratégica poderão guiar políticas públicas. Temos mais uma vez que evidenciar o impacto positivo do PDPA no município de Niterói. Trata-se de um projeto de grande magnitude, em parceria com a Prefeitura, e que já se consolida em várias frentes, graças ao empenho do poder público e dos nossos pesquisadores”, celebra o reitor da UFF Antonio Claudio Lucas da Nóbrega.
O coordenador da pesquisa, professor Abílio Soares, do Departamento de Biologia Marinha da UFF, explica que os microplásticos são partículas com até cinco milímetros de diâmetro, oriundas da degradação de objetos maiores, consideradas um dos principais poluentes ambientais atualmente. De acordo com o docente, uma vez nos oceanos, eles podem permanecer na água ou ser transportados para a costa, onde irão se concentrar nas areias.
“Estudos anteriores demonstram que o microplástico encontrado no oceano pode abrigar inúmeros microrganismos, transmissores de doenças ou não, que podem afetar de forma desequilibrada o ecossistema vivo da praia. Nesse projeto, em especial, as análises descobriram que o microplástico é vetor de uma variedade de bactérias com genes de alta resistência à antibióticos. A existência desse poluente é um risco à saúde dos banhistas”, salienta Abílio.
Outro gene identificado em abundância na areia das praias é o de resistência à classe da Azitromicina. Esse antibiótico foi amplamente utilizado de forma preventiva durante a pandemia de COVID-19, mesmo em pacientes não hospitalizados e com sintomas leves da doença. A utilização deste medicamento pode ter favorecido a seleção de bactérias resistentes não somente nas praias de Niterói, mas em outros diversos ambientes e regiões, aponta a pesquisa.
Cerca de 750 mil pessoas morrem por ano no mundo de infecções por estas chamadas superbactérias, e estima-se que este número poderá chegar a 10 milhões até 2050.
”Caso isso se confirme, o cenário está aberto para o surgimento de uma nova pandemia. Para evitar este quadro, são necessárias ações para diminuir o surgimento de novas superbactérias, como, por exemplo, um controle mais rigoroso no uso de antibióticos” afirma o professor Henrique Fragoso, vice-coordenador da pesquisa e também da Biologia Marinha da UFF.