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MAC 27 anos: “O MAC é um museu de arte contemporânea, mas também é um museu da cidade de Niterói”, afirma diretor do espaço

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Diretor do MAC desde janeiro de 2021, Victor de Wolf, de 42 anos, sabe a importância de gerir o museu que é símbolo oficial de Niterói. Ele quer atrair mais jovens e pessoas da periferia para o espaço, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer.

ErreJota Notícias: São 27 anos do MAC. Vocês estão preparando uma grande festa, com exposição, show e outros eventos. Como está o MAC hoje?
Victor de Wolf: É um prazer ser diretor deste museu. Fizemos as festas dos 25 e 26 anos também. Esse museu é o símbolo da nossa cidade. Eu lembro desta cidade antes do MAC. Ele mudou essa cidade quando foi construído. Dirigir o símbolo é uma coisa impactante. Só que ele não é só um ícone, é também um museu. Uma disputa simbólica. Ele é um prédio ou um museu? A gente tenta juntar os dois. Ele é um museu num prédio do Niemeyer. O nosso trabalho aqui é fazer com que as pessoas venham conhecer o prédio e descubram que também é um museu e que a arte contemporânea faz parte da vida das pessoas.

ErreJota: Como é escolher e trazer exposições para este museu?
Victor:
Toda exposição para vir para cá tem que se adaptar ao espaço. Quem tenta trazer uma exposição pronta para cá, descobre que não consegue. Toda adaptação que se faz para cá tem que ser repensada a exposição inteira, porque ela não é uma galeria quadrada comum. Niemeyer ousou. Ele fez um prédio redondo. Não é comum ter museus redondos. Isso é um desafio. Como você monta uma exposição na varanda com luz externa entrando? Com o plano museulógico, nós escolhemos as exposições um ano antes. Já sabemos as exposições que vão entrar no ano que vem.

ErreJota: São que tipo de exposições?
Victor:
Arte contemporânea. Preferencialmente brasileira. Nosso acervo próprio é só disso. A gente tenta fazer uma mescla. Lógico que a arte brasileira é importante para nós. A gente quer que o turista e o cidadão que vêm aqui vejam a nossa arte. Mas, ela não é fechada ao nosso país. A gente tem uma parte que valoriza os artistas de Niterói também.

No aniversário do museu só tem artista niteroiense expondo nas galerias. Depois da pandemia tem sido muito difícil as exposições internacionais, porque o transporte ficou mais caro. O dólar está caro ainda. Retomar as frequências dos museus ao redor do mundo leva um tempo. Agora, em julho, o museu bateu recorde de público.

ErreJota: Qual a média de público do museu e qual o mês que tem mais público?
Victor:
A média é de três mil pessoas. Em julho tivemos 20 mil pessoas dentro do museu. A gente nunca teve tantas pessoas. O máximo tinha sido 15 mil.

O mês mais visitado é o das férias e no meio do ano, no recesso escolar. Dezembro, janeiro e julho. Aqui vêm muitas escolas também, principalmente as escolas públicas. Aqui vêm muito estudantes de outros municípios, a maioria do Rio de Janeiro.

ErreJota: Os estudantes conseguem entender as exposições de arte contemporânea?
Victor:
Para isso nós temos o setor educativo no museu. Monitores nas galerias que estão para ajudar. Lógico que não dá para explicar a arte 100%. É a sua visão sobre a obra que está na parede. A ideia é que você possa pensar pela sua vivência. Por isso é importante, quando você escolhe as exposições, que elas tenham afinidade com o público que quer no museu. Está no nosso planejamento, a gente vem tentando trazer cada vez mais, exposições de pessoas que nunca estiveram num museu. De pessoas negras, que geralmente não vêm, de artistas LGBTs.

ErreJota: Geralmente se vê poucas pessoas negras nos museus. Como vocês pretendem atrair esse público?
Victor:
Primeiro, capacitar bem a equipe para receber bem essas pessoas, para que, quando vierem, não sejam mau olhadas. Se um segurança olhar para um visitante negro como se fosse um assaltante, você não vai ter aquela pessoa voltando aqui. Você precisa ter uma mudança de olhar de sua própria equipe.

O visitante precisa chegar aqui e ver que tem alguém na recepção, por exemplo, que é negro igual a ele. Entrar na exposição e ver que tem um artista negro expondo igual a ele. Isso faz com que a pessoa entenda que o local dela também é em um museu. A gente vai fazer eventos de cultura negra aqui. No aniversário teremos um baile charme. É uma das experiências que a gente quer ter aqui no museu. O MAC vai estar gratuito no fim de semana do aniversário.

ErreJota: Em janeiro deste ano, o museu teve uma mostra sobre os 80 anos da morte do pintor Antônio Parreiras, que é impressionista. Vai ter outras homenagens como essa?
Victor:
O MAC tem duas características. Ele é um museu de arte contemporânea, mas também é um museu da cidade de Niterói. O Museu Antônio Parreiras está há mais de 10 anos fechado. Um dos maiores pintores deste país. Ele era de Niterói. Mudou a forma de fazer pintura. Ele foi um contemporâneo no seu período. Ele foi de vanguarda.

A direção do museu pediu uma ajuda para expor as obras do artista e fazer uma campanha de arrecadação de dinheiro para ajudar o museu a retomar as suas atividades. Para nós foi muito rico. Muito importante que o MAC sirva para apoiar a cidade.

ErreJota: Conseguiram ajudar o Museu Antônio Parreiras?
Victor:
Sim, conseguimos dar alguma ajuda. A diretora de lá conseguiu apoio de empresas locais para patrocinar a exposição e obra conseguiu retomar. A gente tenta fazer uma gestão das artes contemporâneas e dos debates contemporâneos. O Baile Charme não é arte contemporânea, mas, traz um debate muito atual, por exemplo.

ErreJota: Qual o legado do MAC deixa desses 27 anos?
Victor:
Trazer para a cidade de Niterói a arte contemporânea e os debates contemporâneos. Trazer as pautas da sociedade atual para dentro do museu. Independente da posição política partidária. Quando se discute a democracia no Brasil, é um debate contemporâneo. O combate ao racismo no Brasil é um debate contemporâneo. As pautas da diversidade, também.

ErreJota: Para o futuro, o que se pensa para o MAC?
Victor:
O que a gente planeja para o futuro é um museu cada vez mais diverso, que consiga também projetar os artistas de Niterói.

ErreJota: Tem muitos artistas de Niterói, de arte contemporânea?
Victor:
Muitos. Nesses três anos de gestão, posso garantir que fizemos mais artista contemporâneos de Niterói que nos anos anteriores. É importante divulgar os artistas de Niterói.

ErreJota: Tem vindo muitos visitantes estrangeiros?
Victor:
Não fizemos aferição. Das línguas que ouvimos nos corredores, vem vindo mais. Pós pandemia, esse ano é o que ouvimos mais idiomas estrangeiros dentro do museu. Voltamos a ouvir o alemão e o japonês, que a gente não tinha. A América Latina é mais frequente.

ErreJota: Muitos vêm ao museu por ser uma obra de Oscar Niemeyer também?
Victor:
Sim. O prédio é de uma arquitetura única no mundo. Um museu que dialoga com questões contemporâneas.

ErreJota: As exposições aqui extrapolam as paredes. São diferentes das de outros museus.
Victor:
Temos feito exposições que dialogam com a modernidade. Por exemplo, temos uma agora sobre as redes sociais, a realidade virtual. Para atrair jovens ao museu. O museu não é só o que está na parede. Ele é tudo o que compõe.

ErreJota: Os jovens estão vindo mais ao museu?
Victor:
Não sei se estão vindo mais ou menos. Estão vindo. A gente tem um público jovem muito bom. Quando um pai ou uma mãe traz seu filho ao museu é muito importante. Quando você coloca uma mostra para discutir as redes sociais, você está atraindo os jovens para o museu.

ErreJota: Tem pessoas que moram em comunidades que nunca foram ao museu. Como pretendem trazer essas pessoas?
Victor:
Não é fácil. A sociedade brasileira é extremamente racista. E normalmente quem está na periferia deste país são pessoas pretas. Não é só um museu que vai resolver isso. Podemos discutir o lugar dessas pessoas no museu. Colocar funcionários negros. Eu acho que os museus no Brasil ainda são elitistas. Precisa caminhar para quebrar esse elitismo. Isso é um processo.

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