“Éramos nós três: eu, meu marido e nosso filho, no nosso mundo, como uma família comum. Até que há dois anos, depois de 12 anos casados, tudo mudou. Comecei a sofrer todo o tipo de agressão psicológica possível, só que eu preferia acreditar que era só um momento difícil na vida do meu marido e que isso ia passar”, relembra Lyvia, vítima de violência. Ela é uma das 70 mil mulheres assistidas pelo Centro Especial de Orientação à Mulher (Ceom), que há 21 anos é referência de política pública no combate à violência na cidade de São Gonçalo.
Formados por equipes multidisciplinares, os Centros (Zuzu Angel e Patrícia Acioli) possuem psicólogas, assistentes sociais, advogado e guarda municipal, que formam uma rede de apoio e acolhimento às mulheres que chegam ao local. Em constante articulação com as redes de proteção como o movimento de Mulheres, Defensoria Pública, Ministério Público e delegacias especializadas.
“O trabalho do CEOM é resgatar a autoestima dessas mulheres vítimas de violência e auxiliá-las a romper o ciclo de violência, amparando e acolhendo com apoio psicológico, jurídico e assistencial. O Ceom é um instrumento de luta e garantia da cidadania em São Gonçalo”, afirmou a subsecretária de Políticas Públicas para Mulheres, Andrea Machado.
Em 2017, o município de São Gonçalo fez parte das 10 cidades com maiores números de violência psicológica, tentativa de estupro e lesão corporal, de acordo com o Dossiê Mulher 2018. Segundo Aurélia Leal, assistente social do Ceom, grande parte do público assistido é formado por mulheres jovens, que percebem cada vez mais cedo que vivenciam um contexto de violência e violação. “Muitas são casadas há muitos anos e vivenciam desde jovens a violência, que em muitos casos começam com insultos e violência psicológica, e a gente percebe o quanto esses comportamentos estão naturalizados na nossa sociedade”, lamentou.
O Brasil é o quinto país com a maior taxa de feminicídio no mundo. Além de uma maioria jovem, dados da ONU Mulheres apontam que as violências também vitimizam sobretudo as mulheres negras, com um aumento de mais de 50% de assassinatos em dez anos. Para a psicóloga do CEOM, Adriana Barros, auxiliar as mulheres no rompimento da violência não é fácil. “Não é fácil viver, nem é fácil superar a violência. Muitas mulheres chegam aqui sem mesmo reconhecer que passam por uma situação de violação de direitos, e nós ajudamos nesse processo. E pensamos juntas formas de fazer a vida ser boa novamente. É muito delicado afirmar a violência”, disse.
Além do 180 (Central de Atendimento à Mulher em Situação de Violência), a cidade de São Gonçalo ainda possui as redes de proteção através do Conselho dos Direitos da Mulher, localizado na Rua Uriscina Vargas, 36, Mutondo; Movimento de Mulheres, na rua Rodrigues da Fonseca, 201, Zé Garoto; Delegacia de Atendimento a Mulher (DEAM), na Avenida Dezoito do Forte, 578, Mutuá; e através do próprio CEOM, que funciona de segunda a sexta, das 9h às 17h, com atendimento presencial na Rua Camilo Fernandes Moreira, em Neves, ou ainda pelo telefone (21) 96427-0012.