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Especial 90 anos: a boêmia e a ascensão de Manoel Carlos

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Responsável por tramas compostas de leveza, temas fortes e os famosos clichês, o autor Manoel Carlos, o Maneco, conhecido por novelas de sucesso como “Por Amor” e “Laços de Família”, completou 90 anos na última terça-feira (18). E como a maioria dos brasileiros ama um bom folhetim, a equipe do ErreJota Notícias decidiu homenagear o pai das “Helenas”, personagem presente em quase todas suas obras.

O início na TV:

De origem paulistana, Maneco iniciou sua carreira como ator na década de 50, integrando o elenco do ‘Grande Teatro Tupi’, na extinta TV Tupi, que era dirigido por Sérgio Britto, Fernando Torres, e Flávio Rangel, ficando no ar durante dez anos. O programa contava com um elenco de peso, entre eles, Fernanda Montenegro, Ítalo Rossi, Nathalia Timberg, Fernando Torres, Zilka Salaberry, Aldo de Maio e Cláudio Cavalcanti. A atração mostrava ainda um repertório de mais de 450 peças de autores nacionais e internacionais.

A Família Trapo, sucesso nas décadas de 1960 e 1970, e posteriormente, serviu de inspiração para outras atrações humorísticas na TV – Foto de Divulgação

Após a passagem na TV Tupi, passou a dirigir e produzir programas como a “Família Trapo”, exibida na TV Record no fim dos anos 60. Já na Globo, emissora que se consagrou, Maneco esteve a frente de atrações como “O Fino da Bossa” (com Elis Regina), “Globo Gente” (programa de entrevistas sob o comando de Jô Soares) e a primeira fase do “Fantástico” entre 1973 e 1976.

As primeiras novelas e o drama a ser enfrentado:

Passada a fase na direção de programas da Globo, Manoel Carlos escreve suas primeiras novelas, ainda na mesma emissora. Em 1978, estreia “Maria, Maria”, estrelada por Nívea Maria e a “A Sucessora”, protagonizada por Suzana Vieira. Ambas eram baseadas em adaptações literárias.

Em sua quarta novela, “Sol de Verão”, exibida em 1982, o autor precisou deixar a condução da trama pela metade por conta da morte do amigo de Jardel Filho, que também era o protagonista. O folhetim foi concluído por Gianfrancesco Guarnieri e Lauro César Muniz e saiu do ar antes do previsto pela emissora.

As primeiras Helenas:

Lilian Lemmertz – Foto de Memória Globo

Após atuar como colaborador da novela “Água Viva”, em 1980, Maneco estreia sua ‘Helena’ no ano seguinte com o folhetim “Baila Comigo”. Interpretada pela atriz Lilian Lemmertz, a personagem vive a mãe dos gêmeos Quinzinho e João Victor (Tony Ramos). Na trama, ela é obrigada a abandonar um dos filhos devido a sua origem humilde.

Maitê Proença e a sua filha na novela, a atriz Tatyane Goulart – Foto de Memória Globo

Dez anos depois, escreveu “Felicidade”, uma livre adaptação de Aníbal Machado. Interpretada por Maitê Proença, a personagem sai de sua terra natal, a fictícia e provinciana Vila Feliz e se muda para o Rio de Janeiro.

No Rio, ela reencontra o seu amor do passado: Álvaro (Tony Ramos). Porém, Helena vai precisar lidar com a noiva do rapaz, a megera Débora (Vivianne Pasmanter).

A ascensão das Helenas com Regina Duarte, Vera Fischer e Christiane Torloni

Ser uma ‘Helena’ do Manoel Carlos é uma realização profissional. O nome é inspirado pela mitologia grega e sua Helena de Troia, mas o autor queria reforçar a proximidade entre o público e o elenco, uma vez que as personagens viviam situações do cotidiano, assim como toda mulher brasileira enfrenta.

Neste papel, diversas atrizes já a interpretaram, entre elas, Regina Duarte, que atuou em “História de Amor” (1995), “Por Amor” (1998) e Páginas da Vida” (2006).

A primeira Helena de Regina Duarte, na novela “História de Amor”, foi um presente em comemoração aos 30 anos como atriz. Mãe solteira, vivia uma relação de amor e ódio com a filha Joyce (Carla Marins). Helena era atraída pelo médico Carlos (José Mayer), mas como toda mocinha, sofre para viver esse amor, enfrentando as rivais Paula (Carolina Ferraz) e Sheila (Lilia Cabral).

José Mayer e Regina Duarte em História de Amor – Foto de Memória Globo

Na época, a trama teve sua sinopse alterada por conta da determinação do Ministério da Justiça, que considerava o tema da paixão de mãe e filha pelo mesmo homem inadequado para o horário para o horário das 18h. O tema seria discutido em “Laços de Família”, quatro anos depois.

Em Por Amor, Antônio Fagundes e Regina Duarte eram protagonistas da trama – Foto de Memória Globo

Exibida em 1997, “Por Amor” retratava que uma mãe seria capaz de fazer pelos filhos. Também interpretada por Regina Duarte, a trama abordava também abordava temas como bissexualidade, traição, ciúme doentio, troca de bebês, alcoolismo, aborto, jogo do bicho e entre outros. A novela é composta por canções que conquistaram o coração dos brasileiros como Palpite de Vanessa Rangel, Nem Um Dia de Djavan, Falando de Amor por Tom Jobim e Per Amore de Zizi Posse.

A atriz Carolina Dieckmann foi responsável por uma das cenas mais memoráveis de Laços de Família – Foto de Memória Globo

Vera Fischer foi mais uma atriz que viveu a personagem. Em “Laços de Família”, ela é a mãe de Camila (Carolina Dieckmann), que descobre ter leucemia. A solução é o transplante de medula e Helena engravida do pai verdadeiro de Camila, Pedro (José Mayer), para tentar ser uma doadora compatível. Exibida originalmente no ano 2000, a novela já ganhou reapresentações e até hoje é lembrada pelo público.

Helena Ranaldi e Dan Stulbach na famosa cena da raquetada em Mulheres Apaixonadas – Foto de Memória Globo

Em 2003, Manoel Carlos ainda escreveria “Mulheres Apaixonadas”. Interpretada por Christiane Torloni, a novela abordava fortes temas como preconceito social contra idosos e lésbicas, celibato, alcoolismo, violência doméstica, traição, câncer, romance com diferenças de idade, ciúmes doentios e entre outros.

Regina Duarte pela terceira vez como Helena, desta vez, em Páginas da Vida – Foto de Memória Globo

2006 foi o ano em que Regina Duarte volta como Helena, desta vez, na novela “Páginas da Vida”. Na trama, ela interpretava uma médica que não conseguiu ser mãe e resolve adotar uma criança portadora de síndrome de Down, rejeitada pela avó, a perversa Marta, interpretada brilhantemente por Lília Cabral.

As últimas Helenas de Maneco:

Taís Araújo foi a primeira Helena negra de Manoel Carlos em Viver a Vida – Foto de Memória Globo

Em 2009, Taís Araújo vive a primeira Helena mais jovem em um folhetim. Na novela, ela era uma modelo de renome internacional, em que sempre colocou à sua carreira à frente de tudo. Durante um desfile em Búzios, conhece Marcos (José Mayer) e se encanta com o seu cavalheirismo.

Além de viver a Helena mais jovem, Taís Araújo se destaca por ser a primeira e única personagem negra de Manoel Carlos. Além da protagonista, a trama teve bons enredos paralelos, como o drama de Luciana (Aline Morais), uma modelo que sofre um acidente e vira tetraplégica para agonia da mãe, a neurótica Teresa (Lília Cabral). Apesar da baixa audiência (36 pontos de média), baixos para os padrões globais da época, a novela foi indicada ao Emmy Awards de 2010.

Júlia Lemmertz foi a última atriz a interpretar Helena na novela “Em Família” – Foto de TV Globo

Na novela “Em Família” de 2014, a atriz Júlia Lemmertz dá a vida a última Helena de Maneco. Curiosamente, a atriz é filha de Lilian Lemmertz, a primeira a interpretar a personagem, em Baila Comigo de 1981. Na trama, Helena é uma leiloeira e com forte personalidade, ela é casada com Virgílio (Humberto Martins), mas sofre ao ver a filha, Luiza (Bruna Marquezine), namorar o flautista Laerte (Gabriel Braga Nunes).

Ambientada em Goiânia e com os mesmos aspectos de outras novelas do autor, o folhetim foi um grande fracasso de audiência e recebeu forte rejeição do público e de crítica.

Outros talentos de Manoel Carlos:

Triângulo amoroso foi um dos principais destaques em Presença de Anita – Foto de Reprodução/Canal Viva

Durante a sua carreira, Maneco mostrou que também sabia redigir boas minisséries, à exemplo de “Presença de Anita”, exibida em 2001. Baseada no romance homônimo de Mário Donato, a trama foi protagonizada por José Mayer e Mel Lisboa e conta a história de Fernando, um arquiteto aspirante a escritor, com dificuldades para escrever seu primeiro livro.

Em crise conjugal, ele e a esposa decidem viajar para Florença, no interior de SP, cidade natal da mulher. Lá, Fernando conhece Anita, uma jovem sensual e provocante que desperta a atenção por sua beleza e logo se torna a inspiração para ele terminar de escrever o livro. Percebendo o interesse que despertou no arquiteto, a moça passa a usar seus encantos para seduzi-lo e atormentar a vida do casal.

A minissérie tornou-se a maior audiência do gênero nos anos 2000, superando outros sucessos como “A Muralha” e “A Casa das Sete Mulheres”, que registraram 29 e 28 pontos, respectivamente. Em 2009, o Maneco foi autor de “Maysa: Quando Fala O Coração”, que retratava a autobiografia da cantora Maysa, se tornando êxito de crítica e de audiência.

O Leblon como cenário:

Reynaldo Gianecchini em uma das ruas mais famosas do Leblon – Foto de Reprodução/TV Globo

O Leblon, cenário habitual de suas novelas, embalado por canções da Bossa Nova, são marcas registradas de Manoel Carlos. Em uma entrevista ao portal Memória Globo, ele explica sobre o uso do bairro da zona sul do Rio em suas tramas.

“Situo as minhas novelas no Rio de Janeiro. Faço coisas muito fortes, sob um céu muito azul. As tragédias e os dramas acontecem, mas o dia está lindo. A praia e o espírito carioca dão uma coloração rosa ao contexto cinzento. E o público acaba absorvendo as tramas de uma maneira mais leve”, expressa.

*Estagiário sob a supervisão de Raquel Morais

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