No dia 17 de dezembro o incêndio do Gran Circus Norte-Americano, na cidade de Niterói completa 60 anos. A tragédia deixou cerca de 500 mortos, sendo 70% crianças, 120 mutilados, além de dezenas de pessoas que foram obrigadas a conviver com marcas físicas e psicológicas.
Este é considerado o pior incêndio do Brasil, com mais de o dobro das 189 vítimas do Joelma, em 1974, e as 242 da boate Kiss, em 2013. O circo estava instalado na Praça do Expedicionário, na Avenida Feliciano Sodré e se autoproclamava maior da América Latina, com cerca de 60 artistas, 20 empregados, e 150 animais. Além de ter a lona de nylon envernizada, a mais moderna do mercado, na época.
Para levantar o Gran Circus do chão e chegar até os 17 metros de altura, o dono contratou mais de 50 trabalhadores para colaborar na montagem. Adílson Marcelino Alves, mais conhecido pelo apelido de “Dequinha”, foi um deles. Com antecedentes criminais por furto e um histórico de doença mental, o homem apresentou problemas logo nos primeiros dias de trabalho. Ele teria se desentendido com outro funcionário após cometer vários erros em sua função e repeti-los, causando discussões e brigas. Com isso, acabou sendo demitido.
No dia da estreia Dequinha tentou entrar escondido no circo, mas foi impedido por Edimílson Juvêncio, o treinador de elefantes. Com a intenção de implementar sua vingança, no dia 17 de dezembro de 1961 Dequinha se reuniu com dois comparsas, a fim de atear fogo no circo. José dos Santos, o “Pardal” que cumpria 10 anos de prisão por furto, mas havia obtido uma licença do diretor do presídio e Walter Rosa dos Santos, o “Bigode”, um morador de rua e alcoólatra.
A caminho do circo Bigode comprou de um posto de combustível, 1 litro de gasolina por 20 cruzeiros. Enquanto Dequinha e Bigode entram sem pagar, Pardal e as mulheres ficaram bebendo do lado de fora. Quase no final do espetáculo Dequinha teria percebido que Maciel Felizardo o havia notado.
Mesmo sendo advertido por Bigode da grande lotação, Dequinha estava decidido a seguir com sua vingança. Os dois saíram do circo e chamaram Pardal e as mulheres. Bigode jogou a gasolina e Dequinha ateou fogo.
Três mil pessoas assistiam ao espetáculo. Faltando apenas 20 minutos para o fim, o pânico foi instantâneo quando a lona incendiou-se e seus pedaços começaram a cair sobre as pessoas, que se empurraram em desespero, até que algumas delas não pudessem mais respirar no aperto.
Em pouco mais de 5 minutos, a lona foi totalmente consumida pelo fogo. De imediato, 372 pessoas jaziam mortas. As outras, num total oficial de 503 vítimas, morreriam depois. Em outubro de 1962, Dequinha foi condenado a 16 anos de prisão. Terminaria assassinado ao tentar fugir, em 1973 — nunca ficou claro por que e por quem. Bigode foi condenado a 16 anos de prisão e Pardal, a 14 anos.
Apesar dos 60 anos da tragédia, no local do pior incêndio da história do Brasil, há apenas uma clínica militar, sem qualquer rastro de tragédia.