O Instituto Estadual de Hematologia Arthur de Siqueira Cavalcanti (Hemorio) iniciará o estudo inédito para testar mais uma opção de tratamento contra o novo coronavírus, a utilização do plasma doado por pessoas vacinadas contra a Covid-19 através de transfusões.
O “Immuneshare” é a primeira pesquisa multicêntrica do país a utilizar o plasma doado por pessoas vacinadas contra a Covid-19, cujo objetivo é tratar pacientes no estágio inicial da doença. A convocação de doadores começa até sexta-feira, e as transfusões estão planejadas para acontecer na próxima semana. A expectativa é que o trabalho seja concluído em dois meses.
Como a vacina produz um tipo específico de anticorpo, teoricamente mais eficiente no combate ao vírus, os pesquisadores acreditam que o tratamento com o plasma possa diminuir as taxas de internação dos pacientes tratados nos estágios iniciais da doença.
‘Estamos atuando em diferentes frentes e com recortes variados da população, a fim de criar mais opções no combate à Covid-19. Nossa expectativa é que, caso os resultados sejam positivos, um tratamento eficaz, para as fases iniciais da doença, possa ser utilizado em número maior de pessoas’, afirmou o diretor-geral do Hemorio, Luiz Amorim.
O estudo será realizado em parceria com a Secretaria de Estado de Saúde do Rio de Janeiro, PUC-RS, UFRGS, Hospital Virvi Ramos-RS, Secretaria de Saúde de Caxias do Sul e Universidade Feevale-RS. O projeto tem a coordenação nacional do professor Marcus Jones, da PUC-RS, e conta com financiamento do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações.
A técnica do uso do plasma convalescente – também chamada de plasma hiperimune, que começou a ser utilizada na epidemia da Gripe Espanhola, em 1918 – pode ser uma esperança para o tratamento do novo coronavírus, principalmente nos casos leves e moderados.
Durante o estudo, serão tratados pacientes com mais de 40 anos que estão nos estágios iniciais da doença. A primeira fase do estudo será a convocação, pelo Hemorio, de doadores de plasma que já completaram o ciclo de imunização há pelo menos 14 dias com as duas doses da vacina, seja a produzida na Fiocruz (Oxford/Astrazeneca) ou no Instituto Butantan (Coronavac).
Após a coleta, o plasma será utilizado em pessoas infectadas – 380 pacientes de Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) das redes de saúde do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul. Desse total, metade receberá a transfusão de plasma, para que possa ser feita análise comparativa da eficácia do produto.
Para ser selecionado, o paciente vai ter que atender a alguns critérios: ter mais de 40 anos e estar no máximo no terceiro dia de sintomas, com um quadro considerado leve ou moderado, sem necessidade de internação hospitalar.
O tipo de tratamento será determinado por meio de um sorteio em um sistema que vai selecionar aleatoriamente os pacientes para receberem transfusão de plasma ou tratamento padrão. Os pacientes vão se recuperar em casa, com acompanhamento dos pesquisadores.
No ano passado, o Hemorio e diversas outras instituições do Rio e de outros países realizaram pesquisa similar, mas com plasma convalescente, de pessoas que haviam sido infectadas pelo vírus e se recuperaram. Os dados preliminares obtidos até agora sugerem que a técnica pode ser eficiente nos pacientes em estágios iniciais de infecção, ao neutralizar o vírus.