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Leia a nossa última edição #72

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Programa de Iniciação Científica da Prefeitura de Maricá promove inclusão e vence barreiras

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Alunos do Passaporte Universitário, que concluíram o Programa de Iniciação Científica (PIC) da Prefeitura de Maricá, provam que determinação e foco superam barreiras. O programa, desenvolvido pelo Instituto de Ciência, Tecnologia e Inovação de Maricá (ICTIM), formou, recentemente, 48 estudantes e, dentre eles, casos que venceram suas limitações por meio dos caminhos da Ciência.

Um desses casos é o Pedro Guerra, de 27 anos. Aluno do Passaporte Universitário, cursando Administração na Universidade de Vassouras, a história de vida dele é comovente. Aos 18 anos e diagnosticado com epilepsia, ao descer as escadas de casa, teve uma crise convulsiva e sofreu um traumatismo craniano. Foram quatro meses internado, sendo um em coma, sete cirurgias no crânio e sequelas graves, como hemiparesia (paralisia cerebral de um lado do corpo), dificuldades na fala e locomoção, diplopia (visão dupla) e perda de memórias recentes.

Passados nove anos desde o acidente, Pedro Guerra conta que tanto o Passaporte Universitário quanto o PIC foram fundamentais em sua recuperação: “Me achava incapaz de fazer uma ação dessa, como entregar um artigo, porque sentia que não tinha a mesma qualidade de antes. Os dois programas me trouxeram mais segurança. Passei por tudo isso e, hoje, concluí uma pesquisa, tenho um artigo pronto. O PIC me ajudou muito nessa questão da perda de memória recente e hoje consigo armazenar as informações. Tudo isso me treinou bastante, inclusive para ser palestrante”, conta ele.

Como fez a contrapartida do Passaporte Universitário em um estágio na Casa de Cultura/Museu Histórico de Maricá, Pedro Guerra foi convidado a palestrar para alunos do Ensino Fundamental da Escola Municipal Antônio Rufino de Souza Filho. Com suas pesquisas voltadas à área de Cultura, outro momento importante foi falar sobre racismo estrutural na Feira das Profissões 2022.

No PIC 2022, sob a orientação do professor Rogério Fernandes da Silva, Pedro Guerra entregou o projeto “A cultura como ferramenta educacional: Histórias infantis contadas para os surdos e pessoas com deficiência auditiva”, trabalho que aborda as libras. “O que extraí dessa pesquisa é que nós precisamos ensinar libras. Trazendo esse ensino para os mais jovens, também vai apresentar outro caminho. A ideia é abrir o leque, incluir mais pessoas com deficiência auditiva à medida que você tem profissionais preparados”, destaca.

Acompanhando toda a luta do filho, a mãe Andréa Alexandre Guerra considera que o PIC foi um divisor de águas nessa trajetória, dando mais autonomia e segurança a Pedro. “O que a Prefeitura de Maricá fez pelo meu filho foi mais do que inclusão. Maricá não enxergou o Pedro dentro de um rótulo. Deram a ele dignidade, deram um caminho, um futuro. Todos do ICTIM trilharam esse mesmo caminho junto com ele, ao longo de toda a pesquisa. Quando você dá ensino, você abre um leque. O Pedro agora despertou até mesmo para ensinar, e isso foi a partir do PIC.”

Não ao etarismo

A edição tem mais um caso de superação. Aos 64 anos, Elizeth Pires, conta que, quando jovem, teve dificuldade de conciliar trabalho e faculdade, o que a impediu de concluir o curso universitário aos 24 anos. Com a constituição da família, o sonho do diploma foi ficando para depois. Ela abriu mão da carreira de servidora pública do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Degase), se dedicou à criação de seus dois filhos e enfrentou desafios também na tentativa de empreender.

Aos 62 anos, Elizeth Pires enxergou na divulgação do Passaporte Universitário a oportunidade para a retomada de um sonho. Com o apoio do marido e dos filhos, se candidatou e foi aprovada. Hoje cursa o 6º período de Serviço Social na Universidade de Vassouras e acaba de se formar do Programa de Iniciação Científica do ICTIM. A aluna relata episódios de etarismo, quando colegas apresentaram resistência e falas preconceituosas devido à sua idade.

“Houve até certa infantilização no trato comigo e posturas que questionavam a minha capacidade de produção foram levantadas, tanto pela idade quanto por eu ser mulher, mas isso não me abalou. Me fez muito bem entrar na faculdade aos 62 anos. Você ser idoso não é menos, é mais! Tenho plena consciência disso! Estou em uma fase em que tenho o privilégio de ter mais disponibilidade para estudar”, cita ela. Em entrevista, Elizeth Pires ressalta que sempre procura apoio na Constituição Federal, no Estatuto do Idoso e no próprio Código de Ética da profissão, ressaltando “posso dizer que qualquer pessoa que dissemine o etarismo, comete um crime. Procurei a Universidade, à época, sendo completamente acolhida e apoiada”, diz.

“A história da Elizeth é um reflexo de muitas outras mulheres, em que a vida toma caminhos que as levam a focar no trabalho, na família, e protelarem seus estudos. O diploma universitário, para muitas, é um sonho, que tiveram que abandonar e acham que nunca vão poder resgatá-lo. Acho que o PIC e o Passaporte Universitário têm resgatado sonhos e, sobretudo, possibilitado a realização deles”, destaca o presidente do ICTIM, Carlos Senna.

No PIC, Elizeth Pires desenvolveu o projeto na área de Sustentabilidade, sob a orientação da professora Mônica Maria Campos, com o tema “Transição da matriz energética no transporte público em Maricá e os impactos na formação e nos direitos dos trabalhadores do setor”. A aluna foi orientada a desenvolver a pesquisa fazendo uma conexão entre o curso universitário e o projeto de Iniciação Científica, o que, para ela, foi importante.

“Ter desenvolvido a pesquisa de Iniciação Científica, levando como base o que tenho aprendido na Universidade, me ajudou para abordar o serviço social com os profissionais do setor de transporte, dentro da realidade de novas fontes energéticas, na perspectiva da mudança na forma do trabalho. Em Maricá, tenho universidade gratuita, transporte gratuito, possibilidade de fazer pesquisa de iniciação científica. Por que não aproveitar?”, dá a dica.

Após ser mãe, a retomada de um sonho

Outro caso de superação na primeira edição do PIC é de Adriana Maciel de Oliveira, 40 anos, mãe de Ryan, de 10 anos. Formada em Administração há 15 anos, atuou na área em uma multinacional, no Rio de Janeiro, mas decidiu mudar completamente de vida, ao planejar ser mãe e se dedicar totalmente à criação do seu filho, optando pela mudança de município e abdicando da carreira profissional. Foram sete anos totalmente dedicados à maternidade até ela tomar a decisão de voltar aos estudos para seguir uma antiga paixão, inspirada pelo cuidado com os animais. Hoje, aluna do Passaporte Universitário, cursa o 6º ano de Medicina Veterinária na Universidade de Vassouras.

“Quando a gente é mulher, vivemos em uma busca por algo a mais e em abdicação incessantemente. Mesmo me sentindo realizada como mãe, acompanhando o crescimento do meu filho, ainda sentia falta do meu desenvolvimento profissional, e por isso comecei a empreender, vendendo cestas básicas”, conta Adriana Maciel sobre os seus desafios. “Não tenho ninguém para cuidar do meu filho, a minha família é do Rio, e meu marido é enfermeiro e estudante de Medicina pela UniRio. O Ryan estuda à tarde, mas pela manhã fica comigo. Então, ele assiste às minhas aulas, os professores já o conhecem, e a gente brinca que ele vai se formar junto com a turma porque ele vive o dia a dia do curso”, diz a estudante.

Ao tomar conhecimento do Programa de Iniciação Científica do ICTIM, Adriana conta que não se via participando, devido à falta de tempo, mas perseverou. A aluna foi selecionada e desenvolveu a pesquisa “Terapia assistida por animais na cidade de Maricá – benefícios e possibilidades de políticas públicas”, sendo orientada pela pesquisadora Luana Jotha Mattos, que admira a força e determinação da estudante.

“A principal dificuldade dela era exatamente estar afastada da academia há muito tempo, se dedicando ao lar e a dinâmica com o filho pequeno, sem rede de apoio. Ela é muito dedicada, interessada e capaz. Fizemos um projeto sobre terapia assistida por animais, em que o foco principal são crianças, por insistência dela, pelo foco no seu filho”, contou a orientadora.

O Programa de Iniciação Científica do ICTIM já deu início à segunda edição e, agora, atende a 56 alunos do Passaporte Universitário e 14 professores orientadores.

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