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Projeto da UFF lembra locais de memórias da ditadura militar de 1964

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Nesta sexta-feira, 31 de março, fazem 59 anos do golpe militar de 1964, que deu iníciu a uma ditadura cívico-militar que durou 21 anos (até 1985) e provocou milhares de mortos, 30 mil torturados e há ainda centenas de pessoas desaparecidas, cujos corpos nunca encontrados. A professora Samantha Quadrat, do Instituto de História e pesquisadora do Laboratório de História Orla e Imagem da Universidade Federal Fluminense (UFF), criou o projeto “Lugares de memórias”, que busca percorrer ex-centros clandestinos de tortura, recuperados e abertos para visitação do público, entendendo as histórias do lugar. Em Niterói também há muitos locais que foram palcos de eventos ligados aos anos de chumbo.

“o 31 de março é o que chamamos de uma data convocante porque nos chama à reflexão. Está nos meios de comunicação, nas disputas pelas memórias do período. Memória, verdade e justiça devem fazer parte desse horizonte de expectativa democrática”, explica Samantha.

O projeto pensa uma atuação junto aos jovens e estudantes da educação básica que frequentam o espaço. É apoiado pela bolsa de produtividade do CNPq e parte das reflexões pode ser acompanhada pela conta do Instagram @lugaresdememoria_.

A professora disponibiliza roteiros que podem ser percorridos na cidade do Rio de Janeiro, em que são recontadas memórias do período a partir de alguns de seus marcos simbólicos. Como o roteiro envolvendo o movimento estudantil secundarista através da vida e assassinato do estudante Édson Luís. A professora destaca que o trajeto, elaborado por ela, articula movimento secundarista, resistência e repressão a partir da história do estudante.

“Se tudo der certo, nesse ano de 2023 abriremos inscrições para colégios e universidades que queiram levar alunos para fazer o percurso”, comemora.

Um dos pontos de visita no roteiro é o lugar onde, em 1968, funcionava a antiga Assembleia do Estado da Guanabara, e que atualmente é a Câmara do Rio. Em 28 de março de 1968, após ser assassinado durante a invasão ao restaurante Calabouço, o corpo de Édson Luís foi conduzido para essa casa do poder estadual.

“Ali, diante dos olhos vigilantes dos estudantes que temiam o que a ditadura poderia fazer com o corpo do secundarista, foi feita a autópsia e o velório. Aos poucos, milhares de pessoas foram chegando para prestar homenagem e protestar contra a ditadura”, conta.

No entanto, nas ruas cariocas podem ser encontradas muitas homenagens aos mortos, desaparecidos políticos e nomes importantes na luta contra a ditadura.

“Foi assim, por exemplo, que me deparei com uma ‘praça’ em homenagem ao Eduardo Seabra Fagundes, na rua Primeiro de Março. Ele foi presidente do Conselho Federal da OAB. Em 27 de agosto de 1980, uma carta-bomba foi destinada para ele em seu escritório na OAB. Mas a explosão do artefato matou Lydia Monteiro, sua secretária”, relata.

Através da pesquisa e do desenvolvimento de projetos dessa natureza, a UFF, segundo a professora, tem sido fundamental no esclarecimento de muitos casos:

“Pesquisas foram usadas pelas diversas comissões da verdade (instituídas pelo governo do país para investigar as graves violações de direitos humanos ocorridas entre 18 de setembro de 1946 e 5 de outubro de 1988), assim como em processos judiciais dentro e fora do Brasil, na batalha pela abertura de arquivos. Somos consultores de filmes e documentários, chamados para matérias de jornais. Criamos acervos de história oral como o que temos em nosso laboratório”, cita.

Niterói foi capital do antigo estado do Rio até 1975, quando houve a fusão com o Estado da Guanabara. Onde hoje é o prédio da Câmara Municipal, na Avenida Amaral Peixoto, foi a sede da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), que teve vários deputados estaduais cassados. Afonso Nogueira de Melo, o Afonsinho, de esquerda, foi preso no prédio e levado para tortura. Na atual 76ª DP (Centtro), ao lado, funcionava o DOPS (Departamento de Ordem Política e Social), onde presos políticos eram interrogados e sofriam tortura psicológica.

Foto: Divulgação/ Prédio da Câmara já foi sede da Alerj

O Complexo Esportivo Caio Martins, em Icaraí, foi usado como presídio político de abril a setembro de 1964 e por lá teriam passado mais de duas mil pessoas, segundo dados da Comissão da Verdade de Niterói. Conforme informações oficiais, teve mais de 400 presos. Outro local que abrigou presos políticos foi a Fortaleza de Santa Cruz, em Jurujuba, um dos pontos turísticos mais visitados da cidade. Entre os presos estava o jornalista esportivo Nelson Rodrigues Filho, que era filho do dramaturgo Nélson Rodrigues.

Crédito: Divulgacao / TV Brasil

Há ainda a Diretoria de Hidrografia e Navegação da Marinha, na Ponta da Areia, onde funcionava o Centro de Informações da Marinha (Cenimar), para onde os presos políticos eram levados para serem toruturados. O antigo Quartel da PM General Castrioto, na Avenida Feliciano Sodré, no Centro, teve como presos políticos a ex-secretária municipal de Educação Maria Felizberta Trindade e a autora teatral Maria Jacintha. O Museu do Ingá, na Rua Presidente Pedreira, era a sede do governo estadual e residência do governador.

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