Uma proposta apresentada pelo Departamento de Estradas de Rodagem do Rio de Janeiro (DER-RJ) para solucionar o problema dos engarrafamentos e do atraso das linhas de ônibus, provocado pelas obras na RJ-104 (Rodovia Amaral Peixoto), pode deixar milhares de pessoas sem transporte coletivo.O órgão sugere que o tráfego seja direcionado para a BR-101 (Niterói-Manilha).
No entanto, somente nos bairros de São Gonçalo onde está sendo realizado o recapeamento da via, Maria Paula, Novo México, Tribobó e Colubandê, uma população de 69,5 mil pessoas ficará sem acesso ao sistema de ônibus se a medida for implementada. Se acrescentarmos os moradores dos bairros do Coelho e de Alcântara, vizinhos à obra e que também recebem seus reflexos, esse número salta para 104,7 mil, de acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Atualmente, circulam por essas localidades mais de 28 linhas, que transportam, diariamente, cerca de 63 mil passageiros. São trabalhadores de diversos setores econômicos, da Segurança Pública, estudantes, funcionários e pacientes de clínicas e hospitais, entre outros, que dependem do sistema de ônibus.
A ideia do redirecionamento das linhas foi apresentada pelo DER-RJ em nota enviada à imprensa, pois o órgão ainda não respondeu oficialmente ao ofício encaminhado pelo Sindicato das Empresas de Transportes Rodoviários do Estado do Rio de Janeiro (Setrerj), que pede a transferência do horário da realização das obras para o período noturno.
“É no mínimo lamentável que o órgão estadual, que cuida da nossa malha rodoviária, não tenha conseguido perceber que a alternativa por ele proposta iria deixar os moradores de todas as localidades no entorno da rodovia RJ-104, ao longo de todo esse trecho em obras, sem transporte coletivo.Desviar o trânsito pela BR-101 só atende ao transporte individual. As próprias comunidades ribeirinhas da rodovia, através de associações de moradores, já começaram a nos procurar para dizer que eles dependem do transporte coletivo, não possuem carro particular e precisam dos ônibus para chegar ao trabalho”, afirma o presidente executivo do Setrerj, Márcio Barbosa.
OFÍCIO – Estudo realizado pelo Setrerj revela que a origem dos engarrafamentos está nas obras de recapeamento da RJ-104, no trecho do Viaduto do Colubandê até a entrada do bairro de Maria Paula. Técnicos do Setrerj, que estiveram no local, registraram a extensão dos congestionamentos e os danos provocados pelo trânsito paralisado em vários horários do dia.
Os especialistas constataram, por exemplo, que o tempo médio de deslocamento do total de ônibus da linha 7721-D (Castelo/Rio-Santa Isabel/SG), entre 17h e 21h38, chega a 4h20m; o da 124-M (Niterói-Itaboraí), 4h18; e o da 511-Q (Imbariê-Niterói), 4h05.
Nos horários das 9h às 21h, os veículos, que operam na linha 1721-D (Alcântara/SG-Candelária-Rio), com as obras, perderam nos congestionamentos 6h27 de tempo médio de viagem; e os da 484M (Alcântara-Niterói), 5h14.
Somente a empresa Fagundes, com as linhas 484-M (Alcântara-Niterói), 549-M (Santa Isabel-Niterói), 549MS (Sacramento-Niterói), 1721-D (Alcântara-Candelária), 572M (Jardim Catarina-Niterói), 3721-D (Alcântara-Botafogo/Rio), deixou de realizar, em apenas um dia, 203 viagens, em consequência dos atrasos dos coletivos parados nos congestionamentos, prejudicando cerca de 10 mil passageiros.
A pesquisa foi encaminhada pelo Setrerj ao DER-RJ, responsável pelas obras, anexada a um ofício no qual a entidade reconhece a importância da reestruturação da malha viária do Estado, mas pede que os trabalhos sejam realizados no período noturno, principalmente durante a madrugada, quando o tráfego de veículos é notoriamente menor.