O Theatro Municipal do Rio de Janeiro estreia nova montagem da ópera-balé La Tragédie de Carmen, adaptação de Peter Brook e Marius Constant para a ópera Carmen, de Bizet, na próxima quarta-feira (9). Com direção de Juliana Santos e Menelick Carvalho, a montagem contará com três elencos de cantores, alguns dos quais integrantes da Academia de Ópera Bidu Sayão, além da participação especial de bailarinos do corpo de balé do teatro, coreografados por Marcelo Misalidis.
A ópera ficará em cartaz até o dia 19. No domingo (13), às 11h30, será feita uma apresentação a preços populares, com o ingresso a R$ 1.
Toda a renda das apresentações será revertida para o pagamento de salários atrasados dos funcionários do Theatro Municipal.
“Nós temos tocado o Theatro Municipal em parceria com os funcionários. O compromisso da nossa gestão é que todas as arrecadações sejam revertidas para o pagamento dos salários dos funcionários nesse momento que estamos vivendo essa crise tão grave no estado”, disse o secretário de estado de Cultura do Rio de Janeiro e presidente do Theatro Municipal, André Lazaroni.
Segundo ele, graças a arrecadações, a secretaria pôde pagar o salário de maio dos empregados do Theatro Municipal e é com a receita do próximo espetáculo que pretende pagar “em breve” o salário de junho. A renda resultante do aluguel do teatro para eventos e shows tem a mesma destinação, disse.
Prata da casa
André Lazaroni informou que tem conseguido reduzir os custos do Theatro Municipal valorizando “a prata da casa”.
“Temos conseguido reduzir muito os custos da ópera, do balé, trabalhando junto com os funcionários, utilizando cenários passados que já tínhamos na nossa central técnica de produções. Com isso, temos conseguido fazer caixa. Mas a maior parte da receita vem de aluguéis para shows e eventos no Theatro Municipal, que têm sido reservados para o pagamento dos funcionários”.
Em relação ao décimo terceiro salário de 2016, o secretário admitiu que só deverá ser pago quando for viabilizado o socorro financeiro da União ao governo fluminense.
Em sua gestão como presidente do Theatro Municipal, André Lazaroni quer fazer com que a sociedade crie um “sentimento de pertencimento” pelo teatro. “A sociedade ainda não se sente proprietária do teatro. Existe uma pequena camada que sabe que o Theatro Municipal é do estado, pertence à população. A gente quer popularizar, dar acesso à população”.
Segundo Lazaroni, popularizar é gerar público para o Theatro Municipal e fazer com que toda a sociedade tenha oportunidade de comprar ingresso e frequentar o espaço. Com ingressos a R$ 1, a ópera-balé Carmen dá oportunidade às pessoas, que não têm condição de comprar ingresso a preços normais, de ter acesso ao equipamento. “Essa é a marca da nossa instituição”, garantiu Lazaroni.
Versão
A versão da ópera Carmen, de Bizet, que o Theatro Municipal apresenta nos dias 9, 10, 12, 17 e 18 de agosto, às 20h; no dia 19, às 20h30; e no dia 13, às 11h30, é inédita na cidade do Rio de Janeiro.
Ao mesmo tempo em que traz todas as melodias e cenas mais famosas da obra original, La Tragédie de Carmen concentra a ação nos quatro protagonistas em um espetáculo de pouco mais de uma hora de duração.
A maestrina Priscila Bomfim, que dividirá a regência e a direção musical do espetáculo com o maestro Jésus Figueiredo, disse à Agência Brasil que uma das características da montagem é que a música original de Bizet foi adaptada “de forma genial, sem perder a qualidade sonora” por Marius Constant para um conjunto de 15 músicos da orquestra do próprio teatro, que serão solistas.
“Isso dá uma importância muito grande a cada músico da orquestra porque cada um deles se torna um solista que ajuda a contar a história de cada personagem”.
A trama foi reduzida por Constant com o intuito de fazer com que o público “fique totalmente ligado” do início ao fim da ópera. “Ele simplifica a trama original, deixando o que tem de mais intenso na música, e extrai dali toda a essência, esse drama, e faz essa ópera concisa da Carmen”.
O espetáculo apresenta também bailarinos solistas do corpo artístico do teatro. “Nossa intenção é usar todos os corpos artísticos da casa”, disse a maestrina. “Nós estamos envolvendo não só a orquestra, mas alguns cantores da casa, alguns bailarinos, para que o teatro seja representado pelos seus três corpos artísticos. Por isso chamamos ópera-balé”.
Alguns cantores são oriundos da Academia de Ópera Bidu Sayão, pertencente ao Theatro Municipal e criada no final de 2015, que é dedicada à formação de jovens solistas. O objetivo da academia é inserir os jovens solistas no ambiente profissional. Alguns deles estão fazendo sua estreia nessa montagem.
Carmen
A ópera original Carmen, de Bizet, fez sua estreia no ‘L’Opéra-Comique’, em Paris, em 1875, e gerou muitas controvérsias, porque a plateia, acostumada com obras que tratavam de assuntos nobres, ficou chocada com a história que abordava a vida de soldados criminosos e tinha como personagem principal uma cigana sem qualquer moral.
A aclamação popular só aconteceu em outubro daquele ano, quando a ópera foi encenada em Viena, Áustria. Foi apresentada no Brasil pela primeira vez em 1881, no Teatro D. Pedro II do Rio de Janeiro. No dia 6 de setembro de 1913, ocorreu a primeira apresentação da ópera no Theatro Municipal, cantada no idioma italiano.
Em 1983, o diretor cênico, Peter Brook, em colaboração com o escritor Jean-Claude Carrière e o compositor Marius Constant, apresentou, em Paris, sua adaptação de Carmen, denominada La Tragédie de Carmen, com duração de apenas 90 minutos, eliminando muitos personagens para concentrar a ação nos quatro personagens principais.
Fonte: Agência Brasil