O presidente americano Donald Trump ameaçou novamente nessa sexta-feira (18), a taxar os países do Brics em 10%, ao afirmar que o bloco queria derrubar a dominância do dólar.
Em discurso na Casa Branca, o republicano também ironizou a Cúpula do Brics realizada no Rio de Janeiro, entre os dias 6 e 7 julho, dizendo que após a primeira ameaça de taxação “quase ninguém apareceu”.
“Temos esse pequeno grupo chamado Brics, que está desaparecendo rapidamente. Mas os Brics queriam tentar dominar o dólar, o domínio do dólar, o padrão do dólar. E eu disse: qualquer um que esteja no consórcio de nações do Brics, vamos tarifar vocês em 10%. Eles tiveram uma reunião no dia seguinte, e quase ninguém apareceu. Eles não queriam ser tarifados, é incrível”, disse Trump.
E afirmou que o Brics “acabaria rapidamente” se tentassem ameaçar a soberania do dólar.
“Quando ouvi sobre esse grupo do Brics, seis países, basicamente, eu os ataquei com muita, muita força. E se algum dia eles realmente se formarem de modo significativo, isso acabará muito rapidamente”, disse Trump.
O que é o BRICS?
O BRICS é um agrupamento de países formado inicialmente por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul, que se uniram para fortalecer a cooperação econômica e política entre eles, buscando maior influência na governança global e promovendo um desenvolvimento mais equilibrado e sustentável.
Posteriormente aderiram ao grupo: Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia, além de países parceiros como Belarus, Bolívia, Cazaquistão, Cuba, Malásia, Nigéria, Tailândia, Uganda e Uzbequistão.
Além de buscar mais influência e equidade de seus integrantes em instituições como Organização das Nações Unidas (ONU), Fundo Monetário Internacional (FMI), Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio (OMC), o Brics tem em seu radar a criação de instituições voltadas para seus participantes, como o Novo Banco de Desenvolvimento, chamado de banco do Brics.
Como começou esse conflito com Trump
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu que os países do BRICS utilizassem uma moeda alternativa ao dólar em suas transações comerciais. Em 2024, o chefe do Executivo reforçou que a criação de uma alternativa ao dólar para comércio entre os países do bloco precisa avançar e não pode mais ser adiada, e defendeu meios alternativos de pagamento.
Apesar do assunto ter se expandido, um consenso entre especialistas da área econômica e política é a de que ele nunca chegou a ser oficialmente discutido.
“O que está sobre a mesa de negociação é o aprimoramento do uso de moedas locais no comércio intra-Brics e a proposta de desenvolver um novo sistema de pagamento com o intuito de reduzir a dependência do sistema SWIFT, tendo como efeito a redução da dependência do dólar americano”, explica o professor de direito internacional e coordenador do grupo de pesquisa Brasil-China da FGV, Evandro de Carvalho.
O pesquisador do Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais Gustavo Carvalho também aponta que não existe nenhuma discussão “séria” sobre a criação de uma moeda comum entre os países do Brics. E, segundo ele, por boas razões econômicas.
Uma delas sendo o fato de que as nações que compõem o bloco têm realidades financeiras muito distintas. Isso abrange tanto a potência da China, com inflação controlada de cerca de 2% ao ano, como economias mais voláteis, como o caso do Brasil.
Em entrevista na última quinta-feira (17) a CNN, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o Brics não foi criado para brigar com outros países, mas discutir problemas de maneira pacífica. “O Brics não foi criado para lutar contra nenhum país, o Brics foi criado para que nós que nos consideramos iguais discutamos de forma pacífica nossos problemas”, comentou.