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Pesquisa da UFF aponta agravamento da pandemia com 5 mil óbitos diários

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Com a nova explosão de casos de COVID-19 no Brasil e os riscos iminentes de colapso dos hospitais assim como dos sistemas funerários, medidas restritivas de circulação na cidade passaram a ser adotadas por grande parte das prefeituras. Entre as principais orientações, destaca-se a proibição das aglomerações de pessoas, em diferentes locais e horários, fator que tem sido apontado como o grande responsável pelo “boom” atual de casos, internações e mortes por coronavírus.  O Brasil pode chegar a marca de 5 mil mortes diárias.

Uma pesquisa da UFF intitulada “Detecção precoce da sazonalidade e predição de segundas ondas na pandemia de COVID-19”, desenvolvida pelo professor do Departamento de Estatística, Márcio Watanabe, no entanto, vem demonstrando a existência de outro fator determinante na ocorrência de surtos do vírus. A pesquisa aponta que no Brasil nos meses de março a maio de 2021 a pandemia tende a se agravar.

O estudo indica que, por meio da análise de dados da pandemia de mais de 50 países de setembro de 2020 até março de 2021, confirmaram-se as evidências de que a sazonalidade afeta a transmissão da COVID-19. A pesquisa, baseada em modelos matemáticos epidemiológicos, cujos resultados iniciais foram divulgados em reportagem anterior, abrangeu num primeiro momento dados referentes ao período compreendido entre março a agosto do ano passado.

De acordo com Watanabe, a pesquisa mostra que nos meses de março a maio de 2021 a pandemia tende a se agravar em países do hemisfério sul, em particular no Brasil, e também em países que seguem padrões sazonais semelhantes ao nosso, como Índia e Bangladesh: “Aqui, o pico de óbitos será provavelmente em abril ou início de maio, com um valor estimado entre 3000 a 5000 óbitos diários. O valor real do pico dependerá da velocidade da vacinação nos próximos meses e das medidas de distanciamento adotadas”, alerta.

Já em territórios do hemisfério norte, como Estados Unidos e nações europeias, os casos devem formar um platô alto, com um número de casos significativos, mas uma menor tendência de aumento. Segundo o pesquisador, apesar de as perspectivas para os países dessa região não serem tão ruins quanto as do hemisfério sul nesse momento, eles não podem relaxar totalmente as medidas de distanciamento, pois isso aumentaria a taxa de transmissão da doença.

“Uma consequência positiva será a realização das Olimpíadas no Japão, em julho, antes da chegada do outono do hemisfério norte, em setembro, período em que os países europeus e asiáticos, assim como os EUA, terão nova tendência generalizada de alta de casos, principalmente os que não tiverem avançado na vacinação”, enfatiza o estatístico da UFF.

Frente a essa perspectiva de aumento muito acelerado dos casos no Brasil em razão da sazonalidade, nos próximos três meses principalmente, é fundamental, segundo Márcio Watanabe, intensificar a vacinação, assim como vacinar primeiramente os cidadãos com maior risco de desenvolver as formas graves da doença. “Por exemplo, indivíduos de 50 a 60 anos são responsáveis por uma expressiva parcela das internações e óbitos, mas não estão relacionados como grupo de risco no plano nacional de imunização-PNI. Enquanto o país não vacinar esse grupo de pessoas, e também os idosos e aqueles com comorbidades, ainda teremos um grande número de óbitos”, ressalta.

A pesquisa também mostrou que medidas de isolamento são capazes de frear o aumento de casos, mas sua efetividade depende da taxa de adesão a elas, principalmente a redução de aglomerações. Para o professor, “é essencial reduzir aglomerações como ônibus lotados, que têm sido ignorados pelo poder público ao longo da pandemia”.

As perspectivas, de acordo com o estudo desenvolvido por Márcio, são de que, a partir de 2022, a COVID-19 deve seguir de forma mais clara o mesmo padrão sazonal da gripe e de outras enfermidades respiratórias, com um aumento de casos e óbitos de março a junho e uma diminuição em outras épocas do ano. Segundo ele, essa identificação da sazonalidade da doença “é fundamental para um correto planejamento das ações do poder público, que já poderia ter se antecipado ao aumento de hospitalizações e óbitos que têm ocorrido neste mês”.

Márcio complementa explicando que “poderemos conviver com a COVID-19 da mesma forma que convivemos com outras doenças respiratórias, como a pneumonia, quando vacinarmos a grande maioria da população. Mas mesmo com a vacina, a doença será endêmica, ou seja, sempre haverá casos. Assim, um ponto fundamental para o futuro é a ciência encontrar algum tratamento que seja significativamente eficaz para pacientes hospitalizados com coronavírus”.

Para o estatístico, “após a produção de diversas vacinas eficazes em tempo recorde, temos que depositar novamente nossas esperanças e apoiar o incrível trabalho de pesquisadores de universidades do Brasil e do mundo, que seguem trabalhando incansavelmente para mitigar cada vez mais os efeitos da maior pandemia da história”, finaliza.

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